PMs do Bope envolvidos em morte em festa junina no Rio prestam depoimentos

Policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que participaram da operação no Morro Santo Amaro, no Rio, começaram a prestar depoimento hoje. A ação terminou na morte do office-boy Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, e deixou outras cinco pessoas feridas.
O que aconteceu
A previsão é a de que todos os PMs sejam ouvidos até amanhã. Eles darão os depoimentos na Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio. A operação no Catete, zona sul da capital, aconteceu por volta das 3h de sábado, enquanto acontecia uma festa junina.
Segundo a Polícia Civil, nenhuma das pessoas atingidas durante a operação do Bope tinha envolvimento com tráfico de drogas ou crime organizado. Isso fez com que os comandantes do Bope, coronel Aristheu Lopes, e do COE (Comando de Operações Especiais, coronel André Luiz de Souza Batista, além de outros 12 policiais que participaram da ação, fossem afastados pelo governador Cláudio Castro (PL).
Castro lamentou a morte de Herus e prometeu que as investigações serão rápidas e rigorosas, tanto pela Polícia Civil como pela Corregedoria da PM. Também afirmou que as câmeras corporais dos policiais serão incluídas nos inquéritos. "Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta e nem diminuir a dor de se perder um ente querido, mas fica aqui a minha tristeza e indignação", disse Castro.
As armas dos PMs do Bope foram apreendidas para perícia. Agentes da Polícia Civil foram ao local na tarde de sábado para realizar perícias. O principal objetivo é entender a dinâmica dos tiros, para saber se Herus e os cinco feridos foram atingidos por disparos feitos pelos policiais ou por traficantes.
Em paralelo, o MP (Ministério Público) também iniciou uma perícia independente, no corpo da vítima, na tarde de sábado, no IML (Instituto Médico Legal). "Peritos legistas realizaram escaneamentos tridimensionais para mapear com precisão os vestígios e lesões, utilizando recursos digitais avançados que permitem a elaboração de laudos interativos para que se possa configurar a dinâmica dos fatos", informou o MP em nota.
Entenda o caso
O office boy Herus Guimarães Mendes morreu após ser baleado com dois tiros no abdômen. Outras cinco pessoas foram feridas. O Hospital Municipal Souza Aguiar informou que apenas uma delas segue internada, com quadro de saúde estável. As outras já tiveram alta médica.
PM justificou ter recebido a informação de que criminosos se preparavam para atacar facções rivais na comunidade e, por isso, intervieram. A favela, que é vizinha à sede do Bope, estava cheia e a festa junina que era realizada no local recebia moradores e pessoas outras regiões da cidade, incluindo homens, mulheres, idosos e crianças.
Segundo a PM, os policiais foram recebidos a tiros e que não revidaram aos ataques rapidamente. Ao avançarem na favela, ainda conforme a versão da polícia, houve um segundo confronto. Vídeos que repercutiram nas redes sociais durante o final de semana mostram esse ponto: crianças e adolescentes que dançavam músicas tradicionais de festa junina começaram a correr quando ouviram tiros se aproximando.
O comandante da corporação, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, disse que "os responsáveis pela operação não observaram os protocolos e procedimentos operacionais da corporação". Em entrevista para a TV Globo na manhã de hoje, ele explicou que existem três requisitos para operações emergenciais: a avaliação de risco e que tipo de impacto a ação vai causar no local; o princípio da oportunidade, que prevê o dia, o horário e está havendo algum evento no local; e a preservação das vidas.
Fim de semana de protestos
Herus foi enterrado ontem no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul. A mãe do jovem, Mônica Guimarães, afirmou no local: "vou ter que deixar meu filho aqui. Tiraram a vida dele. Não deixaram a gente socorrer ele. Ficaram rindo, debochando enquanto ele estava caído no chão. Meu filho foi arrastado, está todo arranhado. Não vou mais ouvir a voz dele, não vou mais receber uma mensagem. Ele não deveria estar aqui."
Flamenguista, Herus era office boy em uma imobiliária da cidade e pai de um menino de dois anos. Ele estava na festa junina com familiares e outros moradores, próximo à casa da avó materna, que mora ali. Baleado no abdômen, foi socorrido ao Hospital Glória D'Or, perto do morro Santo Amaro, mas não resistiu aos ferimentos. Horas depois, no fim da manhã de sábado, familiares, moradores e pessoas ligadas à defesa dos Direitos Humanos, foram até a frente da 9ª DP (Delegacia de Polícia), no Catete, se manifestar contra a operação do Bope, pedir explicações e pedir justiça para Herus.
Ontem ocorreu outro protesto, no mesmo bairro, em um dos principais os do morro Santo Amaro. Um policial civil de folga, que não teve a identidade revelada, à paisana, foi detido em flagrante após tentar avançar com o carro sobre os manifestantes e, em seguida, ter atirado duas vezes para o alto. Ele se rendeu ao ser abordados por policiais militares.