Mauro Cid diz ao STF que Bolsonaro recebeu minuta do golpe e "enxugou", mantendo prisão de Moraes
BRASÍLIA (Reuters) - O delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou nesta segunda-feira em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o então presidente da República recebeu a minuta do golpe, leu e fez alterações, mantendo apenas previsão de prisão do ministro Alexandre de Moraes no documento.
"De certa forma, ele enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor ficaria como preso", disse Cid ao ser questionado por Moraes.
Segundo Mauro Cid, uma versão anterior do documento previa a prisão de mais autoridades como ministros do Supremo e autoridades do Poder Legislativo. Ocorreram, segundo ele, mais de um encontro com a presença do então presidente para discutir o assunto.
O ex-ajudante de ordens é o primeiro a depor no processo a que Bolsonaro e outros sete réus respondem por tentativa de golpe de Estado na sala da Primeira Turma do STF. O ex-presidente está presente no local, mas deve ser questionado apenas nos próximos dias. Antes do início do depoimento do ex-ajudante de ordens nesta segunda-feira, Bolsonaro e Cid se cumprimentaram.
Logo no início, o delator fez questão de dizer que presenciou a maior parte dos fatos da trama golpista, mas não participou deles.
Mauro Cid declarou que o então presidente chegou a convocar uma reunião com a cúpula militar para apresentar o decreto de teor golpista. Segundo ele, os então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Marinha, Baptista Junior, posicionaram-se contrários a qualquer medida nesse sentido, enquanto o da Aeronáutica, Garnier Santos, se mostrou mais favorável a uma ruptura institucional.
(Reportagem de Ricardo Brito)