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Cid diz que presenciou, mas não atuou em tentativa de golpe de Bolsonaro

Mateus Coutinho e Ândrea Malcher
do UOL

Do UOL, em Brasília, e colaboração para o UOL, em Brasília

09/06/2025 14h23Atualizada em 09/06/2025 15h27

O delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, disse ao STF (Supremo Tribunal Federal) que "presenciou grande parte dos fatos, mas não participou deles".

O que aconteceu

Cid negou ter participado da tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder. Ele disse que "presenciou grande parte dos fatos", mas negou participação. Ele também confirmou ter assinado a delação por vontade própria. Não pode haver coação quando há esse tipo de acordo.

Militar explicou os recorrentes depoimentos. "Nunca foram para trazer fatos novos ou coisas que eu não tinha dito" e "sempre foram a pedido da Polícia Federal."

Áudios vazados para revista foram "desabafo para um amigo". Cid disse que estava preocupado com problemas financeiros e na sua carreira e que não sabe como os arquivos chegaram até a revista "Veja" e que o levaram novamente à prisão. A reportagem aponta uma pressão da PF pela delação. Ele nega. Diz que "foi uma linha investigativa e eu tinha uma outra visão do que tinha acontecido".

Bolsonaro "recebeu e leu" a minuta do golpe. Cid disse que ele "de certa forma deu uma enxugada" no documento e que teria retirado as autoridades da lista de prisões, só permanecendo Moraes. Ele brincou: "O resto foi concedido habeas corpus".

Decreto era genérico, diz Cid. Segundo ele, o documento discutido nessas reuniões, das quais participaram os comandantes das Forças apenas dizia "o quê, não dizia como".

Cid reforça que suas mensagens não apontam descoberta de fraude eleitoral. Ele diz que "os dados eram trabalhados para isso, mas não se pôde comprovar nada".

Bolsonaro mandava mensagens pelo próprio celular. Cid diz que pelo menos o WhatsApp e o Facebook "eram operados" pelo ex-presidente.

O almirante Garnier, ex-comandante da Marinha, foi classificado como "radical radical" pelo delator. Já Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto entraram, segundo Cid, no grupo dos "moderados". Eles atuariam para influenciar a opinião de Bolsonaro sobre a tentativa de golpe.

Braga Netto teve papel em entregar dinheiro. Ele detalhou como o general bancou com um montante vindo "do agro" uma operação que depois ele soube pela imprensa que seria o plano para espionar e ass autoridades.

Primeiro a depor é Mauro Cid, delator no processo. Apesar de ter fechado o acordo de colaboração premiada, ele foi denunciado. Durante o julgamento, os ministros vão levar em conta a efetividade das informações fornecidas para decidir sobre os benefícios dados a ele. A delação é um dos principais pontos questionados pelas outras defesas.

Lei estabelece que o delator deve ser ouvido antes dos outros. O objetivo é assegurar que os outros réus conheçam as acusações e informações trazidas pelo colaborador antes de falarem, garantindo assim o amplo direito de defesa. Os outros acusados depõem por ordem alfabética.

Réus podem ficar em silêncio. Eles têm direito a não se autoincriminarem, por isso podem ficar calados e evitar responder a qualquer pergunta. Moraes, que é o juiz instrutor, é o primeiro a questionar, seguido de Paulo Gonet (procurador-geral da República) e das defesas dos réus, em ordem alfabética. Não há limite de tempo para cada depoimento

Bolsonaro será o sexto a depor. Os réus ficarão sentados lado a lado em ordem alfabética. Ele está sentado ao lado das defesas de Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e do general Augusto Heleno, antigo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Apenas Braga Netto vai ser ouvido de forma virtual. Ele continua preso no Rio e vai acompanhar o processo por meio de videoconferência. É o último a falar. Os réus são obrigados a acompanhar as sessões até prestarem o seu depoimento. Depois, podem pedir para serem dispensados do restante da audiência.

Frente a frente com Moraes

Supremo interroga a partir desta tarde os réus do chamado "núcleo crucial" da trama golpista. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF, marcou sessões de hoje até sexta para ouvir os oito acusados.

Réus se encontram e ficam frente a frente com Moraes. As audiências serão presenciais na sala de sessões da Primeira Turma do STF, que foi adaptada para receber a todos como uma espécie de tribunal do júri.

Supremo tem segurança reforçada. O STF montou esquema parecido ao do recebimento da denúncia, em março, com maior controle na entrada e monitoramento. A sala fica em um edifício anexo ao tribunal, na praça dos Três Poderes. Cinco viaturas estavam na porta. Os interrogatórios serão transmitidos pela TV Justiça. O UOL também exibe o processo ao vivo.

Cúpula do governo Bolsonaro vai ser ouvida. O STF interroga o ex-presidente, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier. As sessões podem ser estendidas caso os depoimentos se alonguem.

Eles estão proibidos de se comunicarem entre si. Moraes liberou para que se cumprimentem, mas não podem conversar. Essa é uma das restrições impostas por Moraes ao longo da investigação sobre a tentativa de golpe.

Os réus que vão ser interrogados, na ordem:

  1. Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência e delator);
  2. Alexandre Ramagem (ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência);
  3. Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
  4. Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
  5. Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional);
  6. Jair Bolsonaro (ex-presidente da República);
  7. Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
  8. Walter Braga Netto (general da reserva e ex-ministro da Casa Civil).

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