Pesquisadora: Israel tira foco de Gaza ao abrir frente de combate com Irã
O governo israelense de Benjamin Netanyahu tenta tirar o foco do massacre ocorrido na Faixa de Gaza, território palestino, ao atacar instalações do Irã, avaliou a professora e pesquisadora Isabelle Somma de Castro no UOL News, do Canal UOL.
Eu entendo que Israel está tendo também tentando tirar um pouco o foco do que está acontecendo em Gaza, que é um genocídio.
A gente sabe que são mais de 50 mil pessoas, mulheres, crianças, homens, que nada têm a ver com isso e foram assassinados. E agora, Israel abre outra frente de combate com o Irã. Isabelle Somma de Castro, professora de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)
Na madrugada de hoje, Israel fez uma série de ataques conta o Teerã, capital do Irã. A ação foi classificada por israelense como "ataque preventivo" contra a "ameaça iminente". O bombardeio atingiu usinas nucleares e instalações de mísseis e matou dois líderes militares do Irã. O país respondeu com o envio de mais de cem drones.
O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) se reunirá na tarde de hoje, em caráter de emergência, após receber uma carta oficial do governo iraniano denunciando o ato e alertando que irá retaliar.
Atualmente, Israel está conduzindo vários ataques simultâneos. Além de dezenas de alvos no Irã, outros alvos israelenses são: ataques navais e aéreos ao Iêmen; ataques contra grupos armados do Hamas na parte sul de Gaza e operações em Rafah, Nablus e Jenin (Cisjordânia).
Eu não acredito que o Irã vá escalar [a tensão], porque já não existe... a sua força está bastante enfraquecida. Então, é muito difícil agora o Irã retaliar. Só que a gente teme também que a retaliação de outra forma, com ataques pelo mundo, ações hackers... então, a gente não sabe como vai ser essa retaliação.
Mas o Netanyahu está apostando numa escalada. E não está nem poupando a sua população. Como ele bombardeou áreas civis [em Teerã], ele está convidando [o Irã] a bombardear áreas civis israelenses também. Isabelle Somma de Castro, professora de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)
Pesquisadora: 'Eu ficaria atenta à ação da Arábia Saudita'
Ao UOL News, a professora disse que, apesar de toda a instabilidade na região, ficaria atenta à reação da Arábia Saudita.
Após o bombardeio, vários países da região condenaram severamente a ofensiva israelense, até mesmo a Arábia Saudita, que até há pouco tempo era inimiga declarada do Irã.
Eu ficaria atenta à ação da Arábia Saudita, que é parceiro dos EUA, mas está se reaproximando do Irã. Eles condenaram [os ataques de Israel]. O país é um ator muito importantes e se mostrou contrário, com pronunciamento bastante claro, em relação a esse bombardeio. Talvez, o governo local esteja procurando alternativa para desescalar junto ao Trump. Isabelle Somma de Castro, professora de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)
Oficialmente, Irã não possui armas nucleares
O programa nuclear do Irã é uma iniciativa científica para o uso da energia nuclear iniciada na década de 1950. Segundo o país, ele é voltado para fins pacíficos e segue os princípios do Tratado de Não Proliferação Nuclear. No entanto, a comunidade internacional teme que o país esteja tentando construir uma bomba atômica
A Arms Control Association, organização norte-americana que monitora os arsenais nucleares pelo mundo desde 1971, divulga que apenas nove países possuem bombas nucleares. São eles: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.
O país é o único estado não nuclear que enriquece urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O país defende o direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia, e afirma que não aceitará limites nesse aspecto.
Em 2015, após anos de negociação, um acordo foi firmado entre o Irã e a comunidade internacional. Na época, o país concordou em diminuir as atividades nucleares em troca do alívio das sanções econômica impostas contra a República Islâmica
Jamil: Após ofensiva, diplomatas acreditam que Irã foi vítima de emboscada
No UOL News, o colunista Jamil Chade apurou que, horas após o bombardeio de Israel contra o Irã, diplomatas disseram acreditar que o país islâmico pode ter sido enganado com falsa promessa e, com isso, vítima de uma emboscada.
O que aconteceu? Por semanas o governo de Donald Trump negociou com o Irã. É verdade que ele tinha colocado esse prazo, mas os prazos de Donald Trump mudam conforme, obviamente, o percurso dessa negociação acontece. Isso acontece no comércio, isso acontece na questão migratória, isso acontece em absolutamente todas as esferas de atuação de Donald Trump.
Portanto, não era um prazo fixo, no sentido de que depois disso não haveria negociação, e o que aconteceu é que nessa semana inclusive foi proposto, e foi, na verdade, organizada uma reunião para o próximo domingo entre as diplomacias americanas.
Isso seria no próximo domingo. E nós tivemos ontem essa, entre aspas, já hoje, na sexta-feira, no horário iraniano, esse ataque. Uma emboscada para muitos diplomatas, mostrando que talvez o Irã tenha sido enganado com a promessa de uma negociação.
Uma emboscada que talvez seja até histórica em termos diplomáticos, mostrando, claro, que a intenção negociadora dos americanos talvez não tenha sido feita de tão boa-fé. É aquele princípio que nós já vimos em outros lugares do mundo com o governo de Donald Trump. É a paz, mas a paz pela força, é a paz imposta, é a paz de uma proposta específica, se não for dessa forma, é pela via militar. Jamil Chade, colunista do UOL
Brasil reage a ataque
O governo brasileiro chamou a ofensiva de "uma clara violação à soberania desse país e ao direito internacional". "Os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial", diz a nota.
O Estado brasileiro diz ainda acompanhar a ofensiva "com forte preocupação". Os ataques foram feitos de madrugada, em ação que Israel chamou de "ataque preventivo" contra a "ameaça iminente", e matou dois líderes militares do Irã. O país respondeu com o envio de mais de cem drones.
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