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Neonazistas atacam atores em Lisboa e abalam comemorações do Dia de Portugal

11/06/2025 11h11

Por Andrei Khalip

LISBOA (Reuters) - Um grupo de neonazistas atacou atores do lado de fora de um teatro de Lisboa na noite de terça-feira, forçando o cancelamento de um espetáculo sobre o poeta português Luís de Camões para marcar o Dia de Portugal, que comemora o ícone literário.

A União Europeia afirmou que o discurso de ódio está aumentando em Portugal, e a extrema-direita está ganhando apoio depois que o partido anti-imigração Chega se tornou a principal oposição no Parlamento nas eleições do mês ado.

A ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, condenou na quarta-feira o que chamou de "ataque covarde... à liberdade de expressão, ao direito à criatividade, aos valores democráticos que nos definem como país".

A polícia disse ter detido uma pessoa após a confusão de terça-feira à noite perto do teatro Barraca, no centro de Lisboa.

O ator Aderito Lopes, que interpreta o poeta do século 16 em uma peça intitulada "Amor é fogo que arde sem se ver", teve que ser hospitalizado com ferimentos no rosto.

De acordo com a diretora da peça, Maria do Céu Guerra, o grupo de cerca de 30 neonazistas estava voltando de uma manifestação com cartazes e folhetos que diziam "Portugal para os portugueses".

Inicialmente, eles agrediram verbalmente uma atriz que usava uma camiseta com a imagem de uma estrela associada à esquerda política e, em seguida, atacaram dois atores.

O ataque ocorreu no 30º aniversário do assassinato de um jovem negro, Alcindo Monteiro, em Lisboa, por skinheads, da mesma forma, após as comemorações do Dia de Portugal.

"Trinta anos depois, este país ainda não encontrou uma maneira de se defender dos nazistas", disse Guerra em comentários televisionados.

Sob o regime fascista de António Salazar, que governou o país por quatro décadas até 1974, o Dia de Portugal ficou conhecido como Dia da Raça Portuguesa. Há anos, os movimentos de ultradireita vêm marcando esse dia com comícios de pequena escala.

Após o ataque de terça-feira, os partidos políticos de esquerda acusaram o governo de centro-direita do primeiro-ministro Luis Montenegro de não tomar medidas contra os grupos de extrema-direita.

"Os neofascistas estão atacando livros, o teatro e os envolvidos na cultura. Eles fazem isso porque acham que podem", escreveu a parlamentar do Bloco de Esquerda Mariana Mortagua, no X.

Em nota, a ministra da Cultura Balseiro Lopes disse: "A cultura não se deixa intimidar... E não aceita o ódio disfarçado de discurso político".

Em abril, grupos de extrema-direita provocaram confrontos no centro de Lisboa, prejudicando as comemorações do 51º aniversário da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura.

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