Macron pede mudanças no acordo UE-Mercosul para assiná-lo em 2025
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse estar disposto a o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul ainda este ano, mas somente se incluir medidas para proteger o setor agropecuário europeu, que teme a concorrência do bloco sul-americano.
Suas declarações à GloboNews, por ocasião da visita de Lula a Paris, chegam num momento em que a França busca, paralelamente, formas de bloquear a adoção do acordo por não gostar de "sua forma atual".
Se o acordo for ratificado, a UE, principal parceiro comercial do Mercosul, poderia exportar com mais facilidade automóveis, máquinas e produtos farmacêuticos, enquanto o bloco sul-americano poderia exportar mais carne, açúcar, mel, etc., para a Europa.
Macron propõe incluir um protocolo no acordo alcançado em dezembro entre a Comissão Europeia, em nome da UE, e Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, do lado sul-americano, após 25 anos de negociações.
Para Macron, se os presidentes do Mercosul quiserem exportar seus produtos agrícolas para a Europa, deveriam cumprir as "mesmas normas" que os agricultores europeus, consideradas mais rigorosas em relação ao uso de defensivos agrícolas, mas menos competitivas.
Além dessas chamadas "cláusulas-espelho", o protocolo também poderia permitir "ativar uma cláusula de salvaguarda" para determinados setores, caso o comércio venha a "desregular o mercado de repente", explicou Macron.
- "Disposto" -
Perguntado pela GloboNews se está "disposto" a o acordo este ano caso o Mercosul aceite incluir as mudanças, Macron respondeu: "Sim, porque vamos convencer nossos camponeses e agricultores de que esse acordo é bom para eles".
A entrevista foi gravada na quinta-feira, depois que Lula pediu, durante uma coletiva de imprensa conjunta, que Macron "abrisse seu coração" ao acordo e concluí-lo durante a presidência brasileira do Mercosul, na segunda metade de 2025.
Os agricultores ses, que nos últimos anos protagonizaram importantes protestos e chegaram a bloquear estradas com seus tratores, haviam pedido na véspera que Macron expressasse a Lula sua "firme" rejeição ao tratado comercial.
Mas o presidente francês considerou então que o acordo é "bom para muitos setores" no atual contexto de tensão comercial por causa das tarifas impostas por Donald Trump, embora represente "um risco para a agricultura dos países europeus".
Enquanto Bruxelas define o método de ratificação do lado europeu, a França busca aliados na UE para formar uma minoria de bloqueio ao texto. Na quinta-feira, juntamente com Hungria e Áustria, reiteraram sua oposição a um acordo "desequilibrado".
- Sem febre aftosa -
No entanto, a pressão cresce dentro da UE para que o acordo seja aprovado como uma medida para aliviar os impactos das tarifas americanas. "O acordo com o Mercosul deve ser ratificado e implementado rapidamente", disse em maio o novo chanceler alemão, Friedrich Merz.
"Haverá um custo muito alto para a Europa" se Trump aplicar as tarifas, alertou nesta sexta-feira o diretor da agência de promoção de investimentos Apex, Jorge Viana, convocando a UE e o Mercosul para "somarem os dois maiores blocos de produção de alimentos do mundo".
De Paris, chegou nesta sexta-feira uma boa notícia para o Brasil.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) entregou a Lula o certificado que declara o país livre de febre aftosa ? uma zoonose viral que afeta bovinos, ovinos e caprinos ? sem necessidade de vacinar seu rebanho.
Lula qualificou o reconhecimento como "muito gratificante", sobretudo quando o país conta com "mais de 230 milhões de cabeças de gado" e quer aumentar as exportações para o resto do mundo.
O presidente brasileiro, que encerrará sua visita à França na segunda-feira, também visitou junto com Macron a exposição do artista brasileiro Ernesto Neto no museu Grand Palais, na celebração do ano cultural França-Brasil, e foi declarado doutor "honoris causa" pela universidade de Paris 8.
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