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'Ela tirou eleição da gente': como a relação de Zambelli e Bolsonaro ruiu

Carla Zambelli e Jair Bolsonaro - Reprodução
Carla Zambelli e Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/06/2025 10h55Atualizada em 03/06/2025 15h17

A deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão pelo STF, anunciou sua saída do Brasil e disse que se licenciará da Câmara dos Deputados. Segundo a colunista do UOL Letícia Casado, ela está em Miami, nos EUA, e planeja viajar amanhã para a Itália. Ela foi uma das grandes aliadas antes e durante a Presidência de Jair Bolsonaro (PL), mas a relação entre eles ruiu.

Da amizade ao rompimento

Carla Zambelli era uma das maiores entusiastas do governo Bolsonaro. Uma das principais defensoras do presidente, ela se destacou pela postura fervorosa tanto nas redes sociais quanto no Congresso. Carla, que se autodenomina "conservadora" em seu perfil no Instagram, teve papel relevante em pautas como, por exemplo, a flexibilização do porte de armas e as discussões antiaborto, além de defender os valores da "família tradicional".

A relação com os colegas de partido, no entanto, ou a colecionar atritos. Criticada pelo núcleo militar do governo, Carla acabou perdendo o posto de vice-líder na Câmara, destituída por Bolsonaro, que na ocasião optou por se aproximar de deputados do centrão.

Na campanha para as eleições presidenciais de 2022, Carla Zambelli apoiou Bolsonaro abertamente. A deputada participou de lives com o então candidato à reeleição e compareceu a motociatas organizadas pela equipe do PL. Em contrapartida, Bolsonaro chegou a cogitar apoiar Carla para o Senado, por São Paulo. No entanto, Bolsonaro acabou declarando apoio ao astronauta Marcos Pontes, eleito para o cargo.

Mesmo sem o apadrinhamento de Bolsonaro, Carla seguiu defendendo-o. Após a derrota de 2022, a deputada chegou a abordar o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Batista Júnior e o general Paulo Sérgio de Oliveira, então Ministro da Defesa, solicitando que "não deixassem Bolsonaro na mão". Por meio de sua defesa, Carla declarou à época que "não se recordava do fato" descrito por Batista Júnior em depoimento à Polícia Federal.

Carla Zambelli e Jair Bolsonaro em cerimônia militar no final de 2022 - Divulgação - Divulgação
Carla Zambelli e Jair Bolsonaro em cerimônia militar no final de 2022
Imagem: Divulgação

Em 2023, com a relação já abalada, a deputada criticou a postura de Bolsonaro após a derrota para Lula. "Discordo da maneira que ele levou aquele tempo todo [para se manifestas após as eleições] e o silêncio que teve", disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Carla fez, ainda, um aceno político ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, alvo constante de críticas por parte dos bolsonaristas. "Agora não é hora de bater no STF, não é hora de fazer manifestação", declarou. Já à emissora CNN, Carla revelou que não defendia mais o impeachment de Moraes.

Bolsonaro revelou que as falas de Carla haviam sido uma traição contra ele. Estas conversas foram com aliados próximos.

Em 2023, ele declarou: "Não falo e não atendo mais ligações". Segundo Bolsonaro, eles deixaram de se falar ainda em 2022.

Carla também mantinha uma relação próxima com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. No final de 2020, Michelle compareceu ao casamento de Carla, que aconteceu em um templo maçônico; o então presidente não foi à cerimônia. Em suas redes sociais, Carla Zambelli segue elogiando Michelle.

Em março, a deputada parabenizou Michelle pelo aniversário, chamando-a de "forte", "corajosa" e "querida".

'Tirou o mandato da gente'

Em março, Bolsonaro atribuiu a Carla os resultados negativos para o PL em 2022. "Ela tirou o mandato da gente", declarou em participação no podcast Inteligência Ltda. À época, o ex-presidente foi derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para Bolsonaro, o episódio em que Carla sacou uma arma e perseguiu um apoiador de Lula teve um papel fundamental na eleição. Às vésperas do segundo turno, Carla foi filmada atravessando a rua com uma pistola em punho perseguindo o jornalista Luan Araújo. Para fugir, o homem entrou em um restaurante. A deputada também entrou no estabelecimento e, ainda empunhando a arma, mandou Araújo deitar no chão.

O episódio teve repercussão negativa para Bolsonaro. O ex-presidente perdeu para Lula por uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos e, na avaliação de aliados à época, o caso custou apoios que poderiam ter mudado o resultado das urnas. Desde então, Carla tem sido isolada dentro do próprio partido.

Aquela imagem, da forma com que foi usada, a Carla Zambelli perseguindo o cara. Aquilo teve gente falando: 'olha, o Bolsonaro defende o armamento'. Mesmo quem não votou no Lula, anulou o voto. A gente perdeu. São Paulo estava bem, né?
Jair Bolsonaro

'Estou fora do Brasil há alguns dias', diz deputada

Declaração de Zambelli foi dada em entrevista para a rádio bolsonarista Auriverde nesta manhã. Ela foi condenada a 10 anos de prisão pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) em maio e também à perda do mandato pelos crimes de falsidade ideológica e invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

A viagem não é considerada fuga, pois não havia mandado de prisão. A deputada estava com seu aporte em mãos — em agosto de 2023, o ministro Alexandre de Moraes determinou a apreensão do documento, mas ele já tinha sido devolvido.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) vai pedir a prisão preventiva dela. Ela afirmou que as autoridades brasileiras podem até acionar a Interpol, mas não vão conseguir fazer com que ela volte ao Brasil. "Eu tenho um aporte italiano, pode colocar Interpol atrás de mim, eles não me tiram da Itália", disse Zambelli à CNN.

*Com informações do Estadão Conteúdo e reportagem de março de 2025

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