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Poderosa e temida: O que é a Guarda Revolucionária do Irã

22.set.2015 - Soldados iranianos da Guarda Revolucionária participam em Teerã da parada militar que celebra o aniversário do início da Guerra Irã-Iraque - Atta Kenare/AFP
22.set.2015 - Soldados iranianos da Guarda Revolucionária participam em Teerã da parada militar que celebra o aniversário do início da Guerra Irã-Iraque Imagem: Atta Kenare/AFP
do UOL

Do UOL*, em São Paulo

13/06/2025 11h03

A Guarda Revolucionária do Irã, que teve o comandante general Hossein Salami morto ontem durante ataque israelense, é uma das organizações mais poderosas e temidas do país. Fundada inicialmente com objetivos militares, ela defende a posição de grupos militantes islâmicos e do regime iraniano contra Israel e EUA.

Quem são

O órgão foi criado depois da Revolução Islâmica de 1979, o ano que mudou o Oriente Médio. Naquele período, o monarca Mohammad Reza Pahlavi, que era apoiado pelos EUA e realizava um processo de ocidentalização no Irã, foi deposto. Seu regime foi substituído por uma teocracia que dá extensos poderes ao líder supremo e vê o Ocidente com desconfiança. O novo cargo foi ocupado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Os líderes clericais iranianos, que assumiram o poder, foram os responsáveis pela fundação. O objetivo dos fundamentalistas era que a organização protegesse o sistema de governo clerical muçulmano xiita instalado e, ao mesmo tempo, fosse um contrapeso às forças armadas tradicionais. Até hoje, ela atua para defender o regime iraniano.

Tamanho, poder e influência se expandiram ao longo do tempo. A Guarda começou a intervir em assuntos políticos, principalmente quando um veterano do grupo, Mahmoud Ahmadinejad, se tornou presidente do país em 2005. Atualmente, ex-oficiais da corporação ocupam cargos-chaves no establishment iraniano, do governo ao parlamento.

A Guarda também opera no setor econômico. Após a guerra com o Iraque na década de 1980, envolveu-se fortemente na reconstrução do Irã. Desde então, expandiu seus interesses econômicos para incluir uma vasta rede de negócios avaliados em bilhões de dólares, que abrange desde construção e telecomunicações até projetos de petróleo e gás.

Grupos armados não estatais na região são patrocinados pela organização. O grupo extremista Hamas, o Hezbollah libanês e as milícias iraquiana e iemenita recebem e para serem um ''eixo de resistência'' anti-ocidental na região desde a década de 80. As Forças Quds, uma ala da Guarda, é a responsável por organizar as atividades desses aliados no exterior.

O corpo também opera o arsenal de mísseis balísticos do Irã. Os guardas já usaram os mísseis para atingir militantes muçulmanos sunitas na Síria e grupos de oposição curdos iranianos no norte do Iraque. O país tem a 16ª maior força militar do mundo, segundo levantamento do Global Fire Power.

Eles se reportam diretamente ao líder supremo, atualmente o aiatolá Ali Khamenei. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), a Guarda tem mais de 190 mil soldados sob seu comando, divididos em forças terrestres, paramilitares, navais, aéreas e cibernéticas.

Irã e Israel: como a cooperação se transformou em rivalidade

Ambos eram próximos até a Revolução Islâmica de 1979. O Irã foi, inclusive, um dos primeiros a reconhecer o Estado de Israel em 1948. Tel Aviv considerava o país iraniano um aliado perante os Estados árabes, no conflito do Oriente Médio. Para Teerã, Israel, apoiado por Washington, também era um oportuno contrapeso político aos países árabes vizinhos.

Israel treinou especialistas agrícolas iranianos, forneceu conhecimentos técnicos e ajudou a formar e treinar as Forças Armadas do país islâmico. O governante do Irã na época, o xá Mohammad Reza Pahlavi, retribuiu com petróleo, urgentemente necessário à economia israelense emergente. O Irã abrigava, inclusive, a segunda maior comunidade judaica fora de Israel.

Após a Revolução, ala religiosa que tomou o poder no Irã cancelou a aliança. Gradativamente, os iranianos desenvolveram uma retórica severa contra Israel, inclusive criticando a ocupação dos territórios palestinos. O objetivo era ganhar o apoio dos Estados árabes ou, pelo menos, a simpatia das respectivas populações para aumentar sua influência no local.

O atual líder religioso do Irã deu continuidade. Khamenei e toda a liderança da República Islâmica do Irã também questionam repetidamente a realidade histórica do assassinato sistemático dos judeus europeus sob o nazismo e tentam relativizar, ou mesmo negar, o Holocausto. Assim,o Irã não apenas apoiou o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza, mas também interveio na guerra da Síria do lado do presidente Bashar Al-Assad.

Israel tampouco se esforçou muito para reduzir as tensões. Em diversos discursos, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu comparou a República Islâmica à Alemanha nazista, por ameaçar diretamente a existência de seu país. Ele descreveu o acordo nuclear de 2015, negociado pelas potências de veto da ONU, como um "erro de proporções históricas".

*Com informações da Reuters e da Deutschewelle

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