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Ala do PL rebate radicais e diz que, no STF, Bolsonaro desceu do palanque

do UOL

Do UOL, em São Paulo

12/06/2025 15h33Atualizada em 12/06/2025 18h45

Uma ala do PL diz que o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado, teve uma "postura institucional" ao ser interrogado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes sobre a trama golpista.

O que aconteceu

Desempenho de Bolsonaro diante de Moraes agradou à cúpula do PL. O UOL apurou junto a integrantes da sigla que o ex-presidente começou o depoimento nervoso, mas teria conseguido aliviar a tensão com piadas e cortejos ao ministro nas respostas —o que desagradou a ala mais radical da legenda.

Avaliação é de que Bolsonaro desceu do "palanque". O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), que também é vice-presidente nacional do partido, disse que o ex-presidente não demonstrou "recuo de convicções". "Bolsonaro não estava em um palanque político, agiu com a responsabilidade que o cargo que ocupou exige. Isso demonstra maturidade política e inteligência estratégica. Foi uma manifestação de respeito às regras do jogo."

Ex-presidente adotou um tom "mais institucional, sem abrir mão de seus valores", diz o deputado. Alguns integrantes do PL ouvidos pela reportagem afirmaram que a aposta de Bolsonaro foi adotar o estilo que utiliza no dia a dia com pessoas próximas. "Tem gente [no partido] que quer que ele vá para a guerra", disse um membro da sigla. Mas, a opção pelo tom "sereno" teve como objetivo diminuir a temperatura com a Suprema Corte.

Ironia também esteve presente nas respostas. Quando Bolsonaro perguntou a Moraes se ele poderia fazer uma brincadeira, e prosseguiu perguntando se o ministro gostaria de ser seu vice em 2026, ele reforçou, para aliados, que trabalha com o cenário de candidatura à Presidência da República no ano que vem —apesar de estar inelegível.

Bolsonaro não dormiu na véspera do interrogatório, dizem pessoas próximas. No dia seguinte ao depoimento, Bolsonaro disparou mensagens a uma pessoa próxima às 5h40 para perguntar sobre seu desempenho.

Preparação teve início no fim de semana anterior, no Palácio dos Bandeirantes. Ele teve reuniões com os advogados para preparar estratégias e os pontos que pretendia questionar da denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República). O preparo ocorreu durante estadia no palácio a convite do governador e afilhado político Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Radicais mudam de postura

Um dia depois do julgamento, aliados mais radicais do PL relataram irritação diante de uma postura "mais amena" de Bolsonaro. O ex-presidente chegou a pedir desculpas em um momento do interrogatório —ao ser questionado por Moraes sobre acusações feitas por ele contra ministros da Suprema Corte em reuniões de governo.

Radicais temem que postura "simpática" não resulte em abrandamento de pena. Em caso de condenação, a estratégia de adotar uma postura amena poderia esvaziar a narrativa de que Bolsonaro foi vítima de um juiz autoritário —alvo central dos discursos do ex-presidente em manifestações de ruas e palanques.

Pessoas próximas ao ex-presidente disseram que ele "humanizou" Moraes. O comportamento, para aliados mais radicais, ajudou a formar uma imagem de que o ministro é uma pessoa simpática. Contudo, momentos depois, integrantes do partido disseram que esses correligionários teriam mudado de percepção.

'Retórica', pedido de desculpas e convite a Moraes

Bolsonaro respondeu sobre as acusações que fez contra o sistema eleitoral e ao Judiciário falando em "retórica". O ex-presidente disse que a crítica que fez às urnas eletrônicas é uma "retórica" usada por ele desde seu período como parlamentar. "Era um desabafo, uma retórica que não era para ter sido gravada. O senhor me desculpe", afirmou. Em outro momento, disse ter exagerado na retórica. "Se eu exagerei na retórica, devo ter exagerado com toda a certeza", afirmou.

Ex-presidente disse que queria proteger as urnas. "Meu objetivo sempre foi mais uma camada de proteção das eleições de modo que evitasse qualquer conflito, qualquer suspeição. A minha intenção não é desacreditar, sempre foi alertar", disse.

Moraes perguntou em quais indícios Bolsonaro havia se baseado para fazer acusações contra ministros no ado. "Não tem indício nenhum, ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei. Então, me desculpe, não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores", afirmou Bolsonaro.

Trecho com momento de descontração foi compartilhado por bolsonaristas em redes sociais. Bolsonaro perguntou: "Posso fazer uma brincadeira?". Moraes respondeu: "O senhor que sabe. Eu perguntaria aos seus advogados antes", disse, bem-humorado. O ex-presidente, então, prosseguiu: "Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 26", afirmou, rindo. O ministro retrucou: "Eu declino".

Ex-presidente levou exemplar da Constituição para oitiva. "Sempre joguei nas quatro linhas da Constituição", se defendeu, acrescentando que essa narrativa sobre as urnas sempre foi um tema levantado por ele. Para o deputado federal Capitão Augusto, postura "foi natural e legítima". "[Bolsonaro] se defendeu dentro da legalidade e mostrar que nunca houve intenção golpista, como se tenta propagar."

Apoiadores de Bolsonaro repetem tese de que denúncia de tentativa de golpe é "narrativa" falsa. "Fica claro, que houve um esforço evidente, um contorcionismo jurídico, para tentar encaixar as ditas 'provas' dentro de uma narrativa já predefinida", disse Capitão Alden, deputado federal pelo PL da Bahia.

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