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Los Angeles se mobiliza a favor de indocumentados

11/06/2025 15h44

Los Angeles se mobiliza a favor de indocumentados - Cidade californiana tornou-se epicentro de manifestações contra a perseguição de imigrantes sem documentação regularizada pelo governo Trump. Para especialista, tal mobilização é uma novidade.Desde 6 de junho de 2025, uma sociedade civil indignada protesta pelas ruas de Los Angeles contra a política migratória do governo de Donald Trump. As manifestações, descritas até agora como majoritariamente pacíficas, vieram em reação a uma onda de batidas em massa do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos contra imigrantes indocumentados.

Dos 13,7 milhões de moradores locais nessa situação, 11,6 milhões, ou 84%, provêm da América Latina, explica Ariel Ruiz Soto, analista político chefe do Instituto Política Migratória (MPI): "A Califórnia é o estado com a maior população de indocumentados, quase 1 milhão deles residem na área metropolitana de Los Angeles."

Como ressalta o professor de sociologia Ernesto Castañeda, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e Latinos (CLALS) da American University de Washington, esses cidadãos residem há décadas na área e têm filhos, netos e bisnetos nascidos no país.

"Um em cada cinco habitantes é indocumentado ou tem um familiar que é. Além disso, 35,4% da cidade nasceu no estrangeiro, e muitos deles são solidários e entendem que, se a gente não tem papéis de permanência, não é porque não queira, mas porque não tem o aos processos para obtê-los."

Por sua vez, Maureen Meyer, vice-presidente para programas da Agência de Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA), lembra que mais da metade dessa população vem do México e já mora há pelo menos 15 anos nos EUA. Ela acrescenta que entre a comunidade dos sem-documentos de Los Angeles reina "medo e incerteza".

Cooptando militares para políticas supremacistas

Meyer relata que, sob a atual presidência, o ICE está dando batidas em lugares antes considerados "seguros", como tribunais, escolas e hospitais. Muitas operações se realizaram em locais de trabalho, como fábricas de roupas ou restaurantes, ou zonas aonde diaristas vão, esperando ser contratados para a agricultura ou construção.

"A gente sente que ninguém que não esteja documentado está seguro no país", acrescenta a especialista em direitos humanos: mas para muitos não há alternativa senão continuar buscando trabalho informal, apesar dos riscos. "Por outro lado, justamente devido a sua história como zona migratória, há em Los Angeles muitas organizações apoiando a população indocumentada."

Embora detenções e deportações não sejam novidade na Califórnia, as atuais táticas e visibilidade "mudaram drasticamente o panorama para os indocumentados", explica Ariel Ruiz, do MPI e "a participação de agentes federais e unidades militares endureceu mais as confrontações entre os imigrantes e o ICE".

Com intento de sufocar os protestos antigovernamentais, Washington ordenou o envio de 700 "marines" e 4 mil membros da Guarda Nacional para a segunda maior cidade dos EUA, à revelia do governador da Califórnia, Gavin Newsom. Castañeda, do CLALS, explica:

"Por enquanto, a força armada e os navais não participaram de nenhuma batida, nem é essa a meta: eles estão resguardando os edifícios federais de Los Angeles para onde o ICE levou os imigrantes detidos – a maioria do quais não teve permissão para ver familiares ou falar com um advogado." Ainda assim, em alguns casos as operações tiveram apoio de "pessoal que trabalha para o FBI, a [istração de Repressão às Drogas] DEA, o Departamento para Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, entre outros".

Meyer frisa que "a mobilização maciça de agentes federais militares para enfrentar os protestos é algo inédito no país": "É um dos muitos esforços de Trump para destacar militares para tarefas migratórias, sobretudo na zona fronteiriça, e expandir seu uso para além das tarefas tradicionais."

Castañeda considera "uma novidade" que "os cidadãos de Los Angeles, a maioria da população, esteja se opondo pública e visivelmente contra essas batidas e as políticas federais, que não consideram um tema de segurança pública, mas sim um programa para aterrorizar minorias, e um projeto supremacista".

Autor: Viola Träder

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