Hospitais de Gaza estão lotados de pessoas atingidas por tiros israelenses ao buscarem comida

Um sistema de saúde à beira do colapso, dezenas de mortos, centenas de feridos. Quase todos os dias, o exército israelense abre fogo contra uma multidão que sofre com a fome na Faixa de Gaza. Milhares de pessoas se reúnem perto dos centros de distribuição de ajuda humanitária, arriscando suas vidas em busca de alimentos. Os poucos hospitais ainda em funcionamento no enclave estão lutando para lidar com o fluxo constante de feridos.
Uma jovem de Gaza testemunha anonimamente do hospital de campanha britânico no sul da Faixa de Gaza. Ela está ao lado do leito de seu irmão, que foi gravemente ferido por tiros do Exército israelense enquanto tentava pegar um pacote de ajuda alimentar.
"Ele foi baleado duas vezes no estômago e no antebraço. O ferimento no estômago foi tratado, mas o ferimento no antebraço é complicado. Vários tendões flexores dos dedos foram cortados. Os cirurgiões tiveram que suturar três tendões em um, que ainda estava saudável", explica a jovem.
Medicina de guerra, com os meios disponíveis. Por enquanto, o jovem perdeu o uso da mão direita.
"Meu irmão é destro", lamenta ela, "esperamos realmente poder removê-lo para tratamento no exterior. Os hospitais daqui não podem fazer nada por ele. Não culpo os médicos, eles fizeram tudo o que podiam para salvar sua mão, mas este é um hospital de campanha em tendas. Eles não podem tratar mais de 20 ou 30 pessoas por dia", relata.
Vítimas são mortas ou feridas quando estão em busca de alimentos
Desde o final de maio, "o número de mortos e feridos por balas disparadas por Israel explodiu em Gaza", diz a jovem.
"São massacres diários e gratuitos. A maioria das vítimas foi morta ou ferida em frente aos centros de distribuição de ajuda. Meu irmão tem três filhos e tudo o que ele queria fazer era encontrar algo para eles comerem. Ele não é um inconsequente, é uma pessoa pacífica", garante a irmã do homem à RFI.
Desde o final de maio, uma empresa apoiada por Israel tem istrado a distribuição de alimentos em Gaza. Sua segurança é gerenciada por empresas privadas americanas que empregam ex-soldados. Tudo sob o controle do exército israelense. A ONU condenou o caos.
Hospitais praticamente parados na região de Khan Yunis
Na região de Khan Yunis, no sul de Gaza, vários hospitais estão praticamente fora de atividade "devido à intensificação das hostilidades", de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Na segunda-feira, seu diretor emitiu um alerta sobre os últimos hospitais em funcionamento, como o Al-Nasser e o Al-Amal, em Khan Yunis. Embora o exército israelense afirme que não exige que os hospitais sejam evacuados como parte de suas operações contra o Hamas, as pessoas não têm mais o a eles.
Raed el-Nims é o porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, a organização que istra o hospital Al-Amal de Khan Yunis, que está funcionando da melhor forma possível.
"O hospital está funcionando plenamente para os pacientes de lá. Mas o hospital está localizado dentro do perímetro das evacuações forçadas decretadas pelo exército israelense. Esperamos que as pessoas voltem a ter permissão para ir ao hospital livremente e com segurança para tratamento", explica.
Essas restrições de tráfego também estão afetando o abastecimento dos hospitais que ainda estão em atividade. Isso se aplica principalmente a medicamentos e outros produtos de saúde, mas também ao combustível, que é essencial para a operação dos geradores elétricos que mantêm os serviços vitais do hospital em funcionamento.