"Hamas deve entregar suas armas", diz presidente da Autoridade Palestina em carta enviada à França
Em uma carta enviada à presidência sa, a Autoridade Palestina pede a desmilitarização do grupo islâmico Hamas e promete empreender reformas para relançar o processo para uma solução de dois Estados. O comunicado foi endereçado ao presidente francês, Emmanuel Macron, antes de uma conferência da ONU marcada para a próxima semana sobre o assunto, conforme anunciou o Palácio do Eliseu, nesta terça-feira (10).
"O Hamas não governará mais Gaza e deve entregar suas armas e capacidades militares às forças de segurança palestinas, que supervisionarão a sua retirada dos territórios palestinos ocupados, com apoio árabe e internacional", escreveu o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na carta endereçada ao presidente francês.
As medidas foram apresentada por Paris como "sem precedentes". A Autoridade Palestina tem autonomia limitada sobre partes da Cisjordânia ocupada por Israel, mas perdeu o controle da Faixa de Gaza para o Hamas, em 2007.
Israel já declarou que não aceitará qualquer papel para a Autoridade Palestina no enclave após a guerra e denunciou países que consideram reconhecer a soberania palestina.
A conferência da ONU em Nova York será copresidida pelo presidente francês e pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e acontece em um momento crítico da ofensiva das forças israelenses na Faixa de Gaza.
Como coanfitrião da conferência, Emmanuel Macron deve esclarecer a sua "determinação" em reconhecer um Estado palestino e apresentar a carta que recebeu de Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina desde a morte de Yasser Arafat, em 2004.
No documento, o líder palestino condena o ataque do grupo Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, pede a libertação de todos os reféns mantidos na Faixa de Gaza e promete reformas, informou o Palácio do Eliseu.
Um Estado Palestino reformado
Mahmoud Abbas, de 89 anos, enviou a carta na segunda-feira (9) ao chefe de Estado francês e ao príncipe herdeiro saudita, que copresidirá a conferência sobre a chamada solução de dois Estados, prevista para acontecer de 17 a 21 de junho, em Nova York.
Abbas afirmou que "o que o Hamas fez em 7 de outubro de 2023, "matando e tomando civis como reféns, é inaceitável e condenável", e apelou ao movimento islâmico palestino para "libertar imediatamente todos os reféns".
Como parte de um futuro Estado palestino, Abbas afirma que o Hamas "deve depor suas armas e entregar suas capacidades militares às Forças de Segurança Palestinas" e "não governará mais Gaza", como tem feito desde 2007.
O líder palestino também afirma estar "pronto para convidar forças árabes e internacionais a se mobilizarem como parte de uma missão de estabilização/proteção com mandato do Conselho de Segurança".
Um futuro Estado palestino "não tem intenção de ser um Estado militarizado e está pronto para trabalhar em arranjos de segurança em benefício de todas as partes", "desde que se beneficie de proteção internacional", acrescenta.
Em sua carta, Mahmoud Abbas, que acaba de nomear um novo vice-presidente, também se compromete a continuar as reformas na Autoridade Palestina e confirma sua intenção de organizar "eleições presidenciais e legislativas dentro de um ano", sob "supervisão" internacional. Eleito presidente desde 2005, ele nunca colocou seu mandato em jogo em uma votação.
A França busca apoio
A presidência sa saudou em um comunicado os "compromissos concretos e sem precedentes, demonstrando um desejo genuíno de avançar rumo à implementação da solução de dois Estados".
Emmanuel Macron, que estará em Nova York em 18 de junho, quer fazer desta conferência internacional um momento crucial para relançar essa solução, o que o governo israelense não aprova.
Alguns aliados de Emmanuel Macron acreditam que o reconhecimento da França "só tem valor se houver apoio de outros países". Outros acreditam que Paris pode fazê-lo sozinha, pois, devido ao seu status de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, terá um impacto "enorme", explicou recentemente uma fonte próxima ao presidente.
O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot, afirmou na semana ada que o objetivo era "trazer a bordo" um "certo número de países", além da "Autoridade Palestina e dos países árabes".
Em uma declaração conjunta em maio, o Reino Unido e o Canadá também compartilharam a "determinação" do presidente francês "de reconhecer um Estado palestino". Os compromissos solenes de Mahmoud Abbas poderiam, portanto, permitir que Paris avance e demonstre suas boas intenções a Israel.
Emmanuel Macron continua a levantar a voz contra o governo israelense, reafirmando, na noite de segunda-feira (9), que o bloqueio humanitário a Gaza é um "escândalo" e uma "vergonha". Ao mesmo tempo, enviou um emissário a Israel, na semana ada, para garantir às autoridades que a iniciativa não visava isolá-las, mas sim buscar uma solução que garantisse a segurança de todos na região. No entanto, a diplomacia israelense acusa Macron de estar "em uma cruzada contra o Estado judeu".
(Com AFP)