Ramagem nega crimes e diz que ataques às urnas eram 'anotações privadas'
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), negou ter participado de tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder.
O que aconteceu
Parlamentar é réu, mas nega crimes à frente da instituição. "Nem 5% do que é coletado pela agência vira documento", diz Ramagem. Ele justifica que são checadas as informações, mas pouco se confirma.
Disse que as discussões com seu e em arquivos privados partiram de votação no Congresso sobre voto impresso. "Foi uma derrota para o governo Bolsonaro", afirma. Ele afirmou que depois da votação não houve mais documentos sobre o assunto.
Ramagem itiu que não há prova de fraudes nas urnas. Ele chamou suas anotações de "privadas" e "nada novas", já que Bolsonaro questionava o processo eleitoral desde 2015. Também salientou que escrevia vários arquivos, mas não enviava ao então presidente Bolsonaro.
Mais cedo, Mauro Cid negou ter participado da tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que "presenciou grande parte dos fatos", mas negou participação. Ele também confirmou ter assinado a delação por vontade própria. Não pode haver coação quando há esse tipo de acordo.
Cid negou envolvimento de Bolsonaro no 8/1. O militar disse que Bolsonaro não comentou nem soube de nenhuma organização sobre os atos golpistas antes do 8 de Janeiro.
Bolsonaro "recebeu e leu" a minuta do golpe. Cid disse que ele "de certa forma deu uma enxugada" no documento e que teria retirado as autoridades da lista de prisões, só permanecendo Moraes. Ele brincou: "O resto foi concedido habeas corpus".
Decreto era genérico, diz Cid. Segundo ele, o documento discutido nessas reuniões, das quais participaram os comandantes das Forças apenas dizia "o quê, não dizia como". Cid também disse que havia informado a Bolsonaro sobre a carta golpista que estava sendo confeccionada nas Forças Armadas. Ela foi revelada em um programa por Paulo Figueiredo Neto, que também foi denunciado na ação penal.
Cid reforça que suas mensagens não apontam descoberta de fraude eleitoral. Ele diz que "os dados eram trabalhados para isso, mas não se pôde comprovar nada".
Depoimentos devem ir até sexta
Réus podem ficar em silêncio. Eles têm direito a não se autoincriminarem, por isso podem ficar calados e evitar responder a qualquer pergunta. Moraes, que é o juiz instrutor, é o primeiro a questionar, seguido de Paulo Gonet (procurador-geral da República) e das defesas dos réus, em ordem alfabética. Não há limite de tempo para cada depoimento
Bolsonaro será o sexto a depor. Os réus ficarão sentados lado a lado em ordem alfabética. Ele está sentado ao lado das defesas de Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e do general Augusto Heleno, antigo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Apenas Braga Netto vai ser ouvido de forma virtual. Ele continua preso no Rio e vai acompanhar o processo por meio de videoconferência. É o último a falar. Os réus são obrigados a acompanhar as sessões até prestarem o seu depoimento. Depois, podem pedir para serem dispensados do restante da audiência.
Frente a frente com Moraes
Supremo interroga a partir desta tarde os réus do chamado "núcleo crucial" da trama golpista. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF, marcou sessões de hoje até sexta para ouvir os oito acusados.
Réus se encontram e ficam frente a frente com Moraes. As audiências serão presenciais na sala de sessões da Primeira Turma do STF, que foi adaptada para receber a todos como uma espécie de tribunal do júri.
Supremo tem segurança reforçada. O STF montou esquema parecido ao do recebimento da denúncia, em março, com maior controle na entrada e monitoramento. A sala fica em um edifício anexo ao tribunal, na praça dos Três Poderes. Cinco viaturas estavam na porta. Os interrogatórios serão transmitidos pela TV Justiça. O UOL também exibe o processo ao vivo.
Cúpula do governo Bolsonaro vai ser ouvida. O STF interroga o ex-presidente, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier. As sessões podem ser estendidas caso os depoimentos se alonguem.
Eles estão proibidos de se comunicarem entre si. Moraes liberou para que se cumprimentem, mas não podem conversar. Essa é uma das restrições impostas por Moraes ao longo da investigação sobre a tentativa de golpe.
Os réus que vão ser interrogados, na ordem:
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência e delator);
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência);
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
- Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional);
- Jair Bolsonaro (ex-presidente da República);
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
- Walter Braga Netto (general da reserva e ex-ministro da Casa Civil).