Esvaziado, PSDB se une a Podemos e aposta em 'tucano renovado como fênix'

O PSDB e o Podemos iniciam hoje o processo de incorporação partidária com a convenção que mudou o estatuto dos tucanos para unir os dois partidos.
O que aconteceu
Com a incorporação, o novo partido terá 7 senadores e 22 deputados federais. No momento, o PSDB tem três senadores e 13 deputados federais no Congresso. Aécio Neves (PSDB-MG), que lidera o processo de incorporação do partido, espera que os tucanos se tornem mais atrativos para quem deixou o PSDB no ado. "Quatorze deputados com mandato já procuraram o partido para demonstrar interesse em filiações", disse o mineiro.
Novo partido terá nome temporário de PSDB+Podemos. Ambos concordaram em manter os seus presidentes, Marconi Perillo (PSDB) e Renata Abreu (Podemos), na liderança até o final do ano, que coincide com o final das gestões. "A partir daí, a Justiça já terá autorizado a incorporação", explicou Aécio.
Presidência será revezada por lideranças dos dois partidos. "[Combinamos que] nos três primeiros anos, a direção nacional do partido ará por rodízios entre lideranças do PSDB e do Podemos. Cada presidente deve ficar seis meses à frente do partido, depois esse intervalo vai para um ano."
Decisão pela incorporação se deu por conta de federação com o Cidadania. Por participar de uma federação, os tucanos não podem ser incorporados por outro partido, nem participar de uma fusão sem autorização do Cidadania. Em fevereiro, o presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, anunciou que desejava o fim da parceria com o partido liderado por Perillo. "O instrumento jurídico é a incorporação, uma questão legal, só podemos incorporar, não podemos ser incorporados, mas todo o espírito é de uma fusão", afirmou Aécio.
Em duas semanas, a decisão deve ser protocolada na Justiça Eleitoral. Embora as lideranças considerem que os integrantes dos dois partidos devem votar pela junção em peso, a decisão do PSDB é mais demorada do que a do Podemos.
Tucano prevalece
O principal símbolo do PSDB deve ser adotado também por integrantes do Podemos. "Já há um entendimento entre nós de que o tucano será o nosso símbolo, um tucano estilizado, para simbolizar a nova fase do partido, que se reinventa", explicou Aécio Neves, que entende a renovação do tucano como uma nova "cara", para o partido, de olho nos eleitores mais jovens. "Um tucano revigorado, como uma fênix. Todos seremos tucanos, só que agora com novas cores."
Futuro nome do partido será definido após a conclusão do processo. "Defendo que nome, número e símbolo tenham consulta ampla aos filliados dos dois partidos", diz Perillo.
Estamos construindo uma alternativa de centro para o Brasil, como fizemos há 37 anos quando fundamos o PSDB, e agora nós estamos dizendo que é possível, sim, sobreviver sem estar ao lado de governos quaisquer que sejam eles. Pragmatismo de um lado, que é a busca por das alianças que sejam convergentes conosco. (...) Vamos dar ao Brasil uma alternativa ao lulopetismo e ao bolsonarismo.
Aécio Neves, deputado federal por Minas Gerais
Nós reafirmamos aqui o nosso compromisso de radicalizar pelo Brasil. Radicalizar no que é certo, contra a falta de uma política de responsabilidade fiscal, a falta de uma política externa séria, a falta de uma política social que efetivamente emancipa, a falta de uma política de geração de empregos, entre outras questões que precisam ser urgentemente debatidas no Brasil.
Marconi Perillo, após a convenção do partido
A debandada tucana
No último mês, Eduardo Leite (PSD-RS) deixou o partido, após 24 anos na sigla. Em março, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também migrou para o PSD, de olho no robusto fundo partidário e na maior proximidade com o presidente Lula (PT) para alavancar sua campanha à reeleição.
O PSDB começou 2025 com três governadores, dos quais só sobrou Eduardo Riedel (MS). Seu entorno, porém, afirma que ele também está em negociações com o PSD e só não deixou o atual partido ainda para não enfraquecer a negociação de fusão com o Podemos.
A debandada não é pontual. Entre 2020 e setembro de 2023, mais de 50 políticos tucanos migraram para o PSD. Nas eleições municipais de 2024, o partido sofreu perdas expressivas: em São Paulo, por exemplo, elegeu apenas 21 prefeitos, bem abaixo dos 176 de 2020.