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Suécia: governo quer proibir adoções internacionais e denuncia violações dos direitos humanos

02/06/2025 11h46

Um relatório do governo sueco, divulgado nesta segunda-feira (2), revelou uma série de irregularidades nas adoções internacionais nos anos 1970 e propõe sua proibição total no país. As denúncias incluem bebês declarados mortos por engano, pais que não foram consultados nos países de origem e a emissão de documentos falsificados.

Segundo a relatora especial Anna Singer, que entregou o relatório à ministra dos Serviços Sociais, durante décadas crianças foram adotadas sem o consentimento dos pais. Em alguns casos, os pais foram informados erroneamente da morte dos filhos ou o consentimento foi dado por terceiros. 

A comissão recomenda a proibição total de adoções internacionais e pede que o Estado sueco peça desculpas públicas. "O Estado deve reconhecer as violações de direitos humanos que ocorreram", disse Anna Singer. 

A legislação sueca priorizou por décadas a facilitação das adoções internacionais. A responsabilidade principal era de organizações privadas, que tinham interesse em promover o maior número possível de adoções, segundo a relatora. 

Há também registros de pais que am a autorização sem compreender totalmente o significado da adoção internacional. A relatora apontou falhas sistêmicas na documentação sueca sobre a origem das crianças. 

Os documentos trazem informações falsas, como data de nascimento, dados dos pais e motivos da adoção. A investigação também revelou que o governo sueco sabia dessas irregularidades desde o início. O número exato de casos não foi divulgado. 

"Imagine alguém apagar a sua história", disse a jurista Lisa Gauffin Dahlin, 30, durante um protesto em Estocolmo. Militante da organização Chile Adoption, que reúne adotados chilenos, ela afirmou que a situação representa "uma ferida aberta". 

Apoio aos adotados

Ao menos dez casos de tráfico de crianças foram confirmados entre os anos 1970 e 2000. Segundo a agência sueca de apoio à família (MFoF), cerca de 60 mil pessoas foram adotadas no exterior. Os principais países de origem são Coreia do Sul, Índia, Colômbia, China, Sri Lanka, Chile, Tailândia, Vietnã, Polônia, Etiópia e Rússia. 

"É muito importante que uma investigação neutra tenha sido feita", diz a psicoterapeuta Hanna Wallensteen, 54, adotada na Etiópia em 1971. Para ela, é hora de apoiar os adotados. "Como nossa identidade foi apagada, não sabemos quem eram nossos pais, de onde viemos, qual era nossa cultura ou religião. Alguém ainda pensa na gente?", questionou.

 

Ela relatou que muitos cresceram ouvindo que "ninguém queria você, ninguém podia cuidar de você, seu país era pobre demais". "Viver sem saber quem você é pode afetar profundamente", afirmou. "Ter tido uma boa vida não exclui o fato de termos sido vítimas de violações de direitos humanos." 

A comissão recomenda a proibição total de adoções internacionais e sugere que o Estado sueco peça desculpas públicas. "O Estado deve reconhecer as violações de direitos humanos que ocorreram", disse Anna Singer. 

As adoções internacionais caíram drasticamente desde os anos 1980. Em 1985, mais de 900 crianças foram adotadas no exterior. Em 2025, até agora, foram apenas 14, segundo a Adoptionscentrum, maior entidade de mediação do país. 

Com informações da AFP

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