Rússia e Ucrânia concordam em trocar prisioneiros jovens e feridos
Rússia e Ucrânia concordaram nesta segunda-feira (2) em Istambul em trocar os prisioneiros de guerra de menos de 25 anos e os feridos, além da entrega de milhares de corpos de soldados, durante negociações que terminaram sem um acordo de cessar-fogo.
Mais de três anos depois da invasão russa, ambos os países mantiveram o segundo ciclo de negociações diretas, um dia após a Ucrânia reivindicar um ataque "em grande escala" em território russo, que atingiu até a Sibéria.
À noite, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou sua oferta para sediar uma reunião de cúpula, "em Ancara ou Istambul", entre os presidentes dos Estados Unidos, da Ucrânia e da Rússia, com o objetivo de alcançar o fim do conflito.
Nenhum representante americano participou da conversa de hoje, segundo o Departamento de Estado. O presidente americano, Donald Trump, disse estar "aberto" a viajar à Turquia.
Durante a reunião, no palácio de Ciragan, às margens do Bósforo, Rússia e Ucrânia acordaram uma troca que beneficiará todos os prisioneiros de guerra gravemente feridos ou com menos de 25 anos, informou o chefe da delegação de Kiev, o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov. Além disso, também foi acordada a entrega de 6 mil corpos de soldados de cada lado, acrescentou a fonte.
O encontro terminou sem um acordo para um cessar-fogo incondicional. "A parte russa continuou rejeitando a proposta de cessar-fogo incondicional", declarou à imprensa o negociador ucraniano Sergiy Kyslytsya.
Moscou propôs à Ucrânia um cessar-fogo parcial de dois a três dias, disse o chefe da delegação russa, o assessor presidencial Vladimir Medinsky, que afirmou não saber quantos corpos de soldados estão em posse dos ucranianos.
- 'Idiotas' -
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou no X a posição russa: "Acho que são idiotas, porque o objetivo de um cessar-fogo é evitar que as pessoas morram, em primeiro lugar (...) Para eles, é apenas uma breve pausa na guerra."
"Estamos esperando os firmes dos Estados Unidos", acrescentou Zelensky, que pediu a Trump para endurecer as sanções contra a Rússia, para que Moscou aceite um cessar-fogo total.
A Ucrânia propôs à Rússia uma nova rodada de diálogo entre os próximos dias 20 e 30, informou Umerov. Ele disse que as delegações deveriam acertar um encontro entre os presidentes dos dois países, o que o Kremlin tem rejeitado.
Como condição para um cessar-fogo, a delegação russa entregou aos ucranianos um memorando em que pede a Kiev que retire suas tropas das quatro regiões da Ucrânia cuja anexação é reivindicada por Moscou. Já os ucranianos forneceram a Moscou uma lista com centenas de crianças que afirmam terem sido "deportadas" pela Rússia e que exigem que sejam repatriadas.
Após participar de uma reunião da Otan em Vilnius, Zelensky enfatizou que a Rússia "não deve receber nenhuma recompensa pela guerra". "Putin não deve receber nada que justifique sua agressão", disse ele.
Apesar dos esforços diplomáticos de vários países, as partes continuam longe de um acordo, seja uma trégua ou uma solução de longo prazo.
A Rússia insiste que o que chama de "as causas profundas do conflito" devem ser solucionadas. Para o país, isso inclui que a Ucrânia renuncie a fazer parte da Otan, e que ceda as regiões ucranianas que Moscou reivindica.
Essas condições são inaceitáveis para Kiev, que pede uma retirada total das tropas russas de seu território e garantias de segurança que Moscou rejeita.
A guerra, que estourou há mais de três anos, causou dezenas de milhares de mortes nos dois lados.
- 'Não nos resta nada' -
No vilarejo ucraniano de Dobropillia, perto da frente oriental, Volodimir, um homem de 53 anos, explicou à AFP que não espera nada das conversas.
"Pensávamos que tudo ia acabar. Agora já não temos mais nada a esperar. Não temos casa, não temos nada. Quase fomos mortos pelos drones", relatou.
Após meses de reveses na frente de batalha, a Ucrânia chegou à negociação depois de reivindicar, ontem, a autoria de um ataque coordenado com drones contra quatro bases aéreas russas, que afirma ter atingido dezenas de aviões de combate.
O ataque, que a Ucrânia garante ter penetrado no território russo a milhares de quilômetros da frente, foi executado com drones introduzidos clandestinamente na Rússia e lançados contra suas bases militares.
O Exército russo anunciou que derrubou 162 drones ucranianos na noite de ontem, a maioria direcionada contra as regiões fronteiriças de Kursk e Belgorod.
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