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Condições em Gaza são catastróficas apesar da ajuda renovada, diz ONU

30/05/2025 20h50

Por Michelle Nichols

NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - A situação em Gaza é a pior desde o início da atual guerra entre Israel e os militantes do Hamas, há 19 meses, disse a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira, apesar da retomada limitada de entrega de ajuda no enclave palestino onde a desnutrição severa se instala. 

Sob crescente pressão global, Israel encerrou um bloqueio de 11 semanas em Gaza há 12 dias, permitindo a retomada limitada de operações lideradas pela ONU. Na segunda-feira, também foi lançada uma nova e polêmica via de distribuição de ajuda, por meio da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês), apoiada pelos Estados Unidos e por Israel.

"Qualquer ajuda que chegue às mãos das pessoas que precisam é boa", disse a jornalistas o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, em Nova York. Mas, acrescentou, as entregas de ajuda até o momento tiveram "muito, muito pouco impacto".

"A situação catastrófica em Gaza é a pior desde o início da guerra", afirmou.

A ONU e os grupos de ajuda internacional se recusaram a trabalhar com a GHF por avaliarem que ela não é neutra e tem um modelo de distribuição que força o deslocamento dos palestinos.

Em última análise, Israel quer que a ONU trabalhe por meio da GHF, que está usando empresas privadas de segurança e logística dos EUA para transportar ajuda para Gaza para distribuição por equipes civis nos chamados locais de distribuição seguros.

Mas Israel permitirá a entrega de ajuda "no futuro imediato" por meio das operações da ONU e da GHF, declarou nesta semana o embaixador israelense na ONU, Danny Danon.

A GHF afirmou nesta sexta-feira que até agora conseguiu distribuir mais de 2,1 milhões de refeições.

Israel vem acusando o Hamas de roubar a ajuda humanitária, o que o grupo nega.

A guerra em Gaza se arrasta desde 2023, quando militantes do Hamas mataram 1.200 pessoas em Israel e fizeram cerca de 250 reféns, de acordo com registros israelenses. Israel respondeu com uma campanha militar que matou mais de 54.000 palestinos, de segundo autoridades de saúde de Gaza.

SAQUES, O

A ONU afirma que, nos últimos 12 dias, só conseguiu transportar cerca de 200 caminhões de ajuda para Gaza, prejudicada pela insegurança e pelas restrições de o impostas pelos israelenses. Não ficou imediatamente claro quanto dessa ajuda efetivamente chegou aos necessitados. Segundo a ONU, alguns caminhões e um depósito do Programa Mundial de Alimentos foram saqueados por pessoas desesperadas e famintas.

As autoridades da ONU também criticaram as limitações israelenses quanto ao tipo de ajuda que podem fornecer.

"As autoridades israelenses não nos permitiram trazer uma única refeição pronta para consumo. O único alimento permitido foi a farinha para as padarias. Mesmo que fosse permitido em quantidades ilimitadas, o que não tem acontecido, não seria uma dieta completa para ninguém", disse Eri Kaneko, porta-voz de Assuntos Humanitários da ONU.

Alguns dos beneficiários da ajuda da GHF disseram que os pacotes incluem arroz, farinha, feijão enlatado, macarrão, azeite de oliva, biscoitos e açúcar.

Em um processo complexo, Israel inspeciona e libera as remessas de ajuda, que são transportadas para o lado palestino pela agem de Kerem Shalom. Lá, a ajuda é descarregada e depois recarregada em outros caminhões para ser transportada para armazéns em Gaza.

Atualmente, várias centenas de caminhões de ajuda aguardam a coleta da ONU no lado palestino de Kerem Shalom.

"Mais ajuda chegaria às pessoas se vocês coletassem a ajuda que os aguarda nas agens", disse a Cogat, agência israelense de coordenação de ajuda militar, à ONU em uma postagem no X nesta sexta-feira.

A ONU disse, no entanto, que na terça-feira os militares israelenses negaram todos os seus pedidos de o a Kerem Shalom para recolher a ajuda. E na quinta-feira, quando 65 caminhões de ajuda conseguiram sair da agem, todos, com exceção de cinco, tiveram de retornar devido aos intensos combates.

Cinco caminhões de ajuda médica conseguiram chegar aos armazéns de um hospital de campanha, mas "um grupo de indivíduos armados invadiu os armazéns... saqueando grandes quantidades de equipamentos médicos, suprimentos, medicamentos e suplementos nutricionais destinados a crianças desnutridas", disse Dujarric.

PROPOSTA DE CESSAR-FOGO

Israel afirma que tem facilitado todas as entregas de ajuda. O Cogat disse nesta semana que, desde a guerra, 1,8 milhão de toneladas de ajuda, incluindo 1,3 milhão de toneladas de alimentos, chegaram a Gaza.

Uma proposta dos EUA para um cessar-fogo de 60 dias no conflito -- aceita por Israel e atualmente sendo considerada pelo Hamas -- permitiria que a ajuda humanitária fosse entregue pelas Nações Unidas, pelo Crescente Vermelho e por outros canais acordados.

Durante um cessar-fogo de dois meses, encerrado quando Israel retomou sua operação militar em março, a ONU disse que recebeu de 600 a 700 caminhões de ajuda por dia em Gaza. A organização enfatizou que quando as pessoas sabem que há um fluxo constante de ajuda os saques diminuem.

"Para evitar o caos, a ajuda deve fluir de forma constante", Corinne Fleischer, diretora do Programa Mundial de Alimentos da ONU para o Oriente Médio, Norte da África e Europa Oriental, postou no X na quinta-feira.

"Quando as pessoas sabem que a comida está chegando, o desespero se transforma em calma."

(Reportagem de Michelle Nichols)

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