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Polícia identifica R$ 152 mil em depósitos 'incomuns' em conta de Augusto

do UOL

Do UOL, em São Paulo

05/06/2025 05h30

A Polícia Civil identificou mais de R$ 152 mil depositados em espécie na conta de Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians. A informação foi incorporada pelas autoridades policiais à manifestação para o habeas corpus pedido pela defesa de Melo, que tenta anular o inquérito do caso Vai de Bet, pelo qual o dirigente foi indiciado.

Investigação

O UOL teve o ao relatório de análise dos extratos bancários de Augusto Melo, que revelou um padrão incomum de depósitos em dinheiro em sua conta do Santander na capital paulista. A prática, que não foi observada nos meses anteriores a dezembro de 2023 nem depois de abril de 2024, coincide com o período após a eleição e dos primeiros meses de mandato no clube.

Os depósitos, que totalizaram R$ 152.070, foram efetuados em sua maioria em valores de até R$ 2 mil. O relatório aponta que esse tipo de prática pode ter sido uma tentativa de "burlar os mecanismos de controle" e impedir a identificação da origem. Em 2020, o Banco Central (BC) estipulou que depósitos de valores superiores a R$ 2 mil tenham identificação obrigatória do depositante.

Ainda segundo o documento, transferências nomeadas eram feitas na sequência, de modo a "identificar o depositante". Carlos Eduardo Melo Silva, o Kadu Melo, sobrinho de Augusto e conselheiro do Timão, foi um dos nomes que apareceu na lista de extratos, com alguns Pix de até R$ 100, logo em seguida.

Na interpretação da Polícia Civil, o dinheiro vivo realça um quadro suspeito de fragmentação de recursos, justamente no período em que Augusto Melo ou a ocupar a presidência. O mesmo "modus operandi", de diluição de valores, foi aplicado ao trânsito do dinheiro da comissão da Vai de Bet — que circulou por contas de empresas ligadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Além dos dados bancários, a manifestação policial também aponta incongruências nos depoimentos dados por Melo a respeito da intermediação do patrocínio. O inquérito investiga a atuação orquestrada por Augusto e ex-dirigentes do Timão — Marcelo Mariano, ex-diretor istrativo; Sérgio Moura, antigo superintendente de marketing; e Alex Cassundé, intermediário que consta no contrato.

Todos os nomes citados foram indiciados por participação no esquema que desviou valores da comissão para o crime organizado. Melo foi enquadrado nos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.

A influência de Marcelo Mariano era tamanha junto ao presidente, que Rozallah, então diretor financeiro, pediu demissão porque Augusto, em um podcast, afirmou que Mariano descia ao setor para autorizar o pagamento de "30, 40 contas por dia". Em seu depoimento [à polícia], Augusto negou ter dito isso -- negou, até mesmo, saber do motivo que havia levado Rozallah a pedir desligamento. Só que, de fato, ele fez mesmo esta afirmação em um programa, como será apontado em Relatório Final [da Polícia Civil].
Trecho de resposta da Polícia à 2ª vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem

Procurado pela reportagem, Melo disse que, por ser dono de comércio e de um estacionamento, "muitas vezes o dinheiro que entra é em espécie". O presidente afastado também reforçou que entregou as transações bancárias às autoridades por livre e espontânea vontade.

Veja a lista de depósitos na conta de Augusto

Dezembro de 2023: 41.750,00 em dois depósitos (R$ 31.850,00 + R$ 9.900,00);

Janeiro de 2024: R$ 29.700,00 em 17 depósitos (R$ 6.000,00 + 16 depósitos somando R$ 23.700,00);

Fevereiro de 2024: R$ 18.250,00 em 10 depósitos;

Março de 2024: R$ 30.700,00 em 17 depósitos;

Abril de 2024: R$ 31.770,00 novamente em 17 depósitos;

Maio de 2024: os depósitos cessaram, coincidindo com o surgimento de denúncias do caso Vai de Bet.

O que diz Augusto Melo

"Todas as minhas transações bancárias foram entregues à Polícia para investigação por minha vontade. Os valores que ali constam todos em minha declaração de Imposto de Renda, feita anualmente.

Sou dono de comércio e de um estacionamento, muitas vezes o dinheiro que entra é em espécie e o meu pró-labore e de meus sócios são retirados em dinheiro vivo, para isso, eu preciso que seja depositado em minha conta.

Minhas contas e vida são limpas e estou sempre à disposição para esclarecimentos, seja do torcedor, da imprensa ou das autoridades responsáveis por quaisquer investigação."

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