'O cara' dos condomínios na TV, Rachkorsky comanda assembleias o ano todo
Você provavelmente já o viu na televisão. Márcio Rachkorsky, 52, é advogado especialista em condomínios, presença frequente na TV e no rádio. Curiosamente, ele não é síndico do prédio onde mora, no centro da cidade de São Paulo. Caiu no curso de direito por acaso —e na área de condomínios, também.
Ele começou a trabalhar aos 14 anos, em um escritório de direito imobiliário —era office boy e levava documentos para lá e para cá, para síndicos e construtoras.
"Meus chefes, advogados, falavam que eu tinha jeito, que era para eu cursar direito. Entrei na faculdade e virei estagiário. Continuei lá, como advogado, por 15 anos. Absolutamente sem querer", contou a Splash.
Fora da televisão, Márcio é um cara sem ambições e com modo de vida liberal. Está aberto a qualquer ideia e oportunidade. Ele mantém uma rotina regrada de exercícios, que pratica por conta própria. E não recusa um convite à casa noturna Madame Satã, na Bela Vista.
Tenho prazer de falar que sou um coroa ainda ativo, enxutão. Não me incomodo. Gosto de ter cabelo branco, gosto de ter rugas, gosto de ser careca. Brinco que sou viking, lenhador, ursão.
Márcio Rachkorsky
Do escritório para a TV
O comentarista do SP1, da Globo, se considera um advogado mediano: não gosta das formalidades da carreira, da postura dos advogados. No dia a dia, nem terno usa.
Nascido no bairro da Lapa, ele é o caçula de cinco irmãos. Sua família é judia, vinda da Polônia fugida da Primeira Guerra Mundial. Márcio perdeu os pais cedo e foi bolsista na PUC-SP.
Ainda no primeiro escritório, começou a frequentar reuniões de condomínio. "Mesmo sendo um menino, eu conseguia botar ordem na casa. E é uma área que não precisa de toda a pompa da advocacia. Vi que poderia trabalhar ali, como um mediador de conflitos."
Conseguir estar no lugar certo, na hora certa. Apesar de ser um cara simples, sempre fui muito aguerrido. Tinha uma assembleia em São Miguel Paulista em um domingo? Podia deixar que eu ia. Sempre fui solícito e as portas foram se abrindo.
Márcio Rachkorsky
Em 2003, ele trabalhava em uma imobiliária na zona sul de São Paulo. Chegou um email, com várias dúvidas sobre a vida em condomínio. Como ele era do setor jurídico, foi orientado a responder. Na sequência, chegou mais uma lista de perguntas.
"Depois de um tempo, essa pessoa se apresentou. Era um produtor do Fantástico, agradecendo por eu ter sido gentil em responder", lembra. Junto com a mensagem, chegou um convite: participar de uma matéria sobre condomínios.
Participei de um grupo chamado "Chame o Síndico", que a ideia era montar um quarteto que visitava condomínios problemáticos e buscar soluções. Deu tão certo que virou algo fixo no Fantástico.
Márcio Rachkorsky
Na mesma época, Márcio estava no carro e ouviu uma entrevista sobre segurança, conduzida pelo jornalista Milton Jung na rádio CBN. Ele ligou para a emissora e acabou entrando ao vivo para contestar o que estava sendo dito.
Na semana seguinte, foi chamado para gravar um piloto para um programa semanal sobre condomínios —que está no ar até hoje, mais de 20 anos depois.
Com o fim do quadro no Fantástico, ele se colocou à disposição da emissora. Não demorou para vir o convite, em 2009: um ciclo de matérias sobre condomínios, no SPTV. "Dessas quatro semanas, nunca mais saiu da grade. Não teve uma semana que falhou."
Suas participações no programa, que hoje chama SP1, rendeu reconhecimento da audiência e grandes amizades —tanto com César Tralli, que apresentou o jornal até 2021, quanto com Alan Severiano, que conduz o noticiário desde então.
Faz mais de 20 anos que frequento a Globo e ainda fico deslumbrado: 'como que eu vim parar aqui?' Meu dia de princesa é o dia que vou a Globo.
Márcio Rachkorsky
Reunião de condomínio? Todo dia
Márcio não consegue entrar em uma padaria para tomar café, uma de suas paixões, e sair sem responder pelo menos 10 perguntas sobre condomínio —sempre com paciência e sorriso no rosto. "É impressionante como as pessoas amam falar desse assunto."
As maiores dúvidas são sobre barulho, síndico que está roubando o prédio, vazamento. "É a pessoa que convive todo dia com o cachorro latindo e não aguenta mais. É a pessoa que mora num lugar que tem festas. Por isso que não tem fim: o que eu falo serve para rico, para pobre, para milionário, para classe média, para todo mundo."
Hoje ele já não atua mais como síndico profissional, profissão criada por ele. No auge, chegou a istrar 200 prédios ao mesmo tempo. "Acabou com a minha vida."
Na função, Márcio ou por algumas situações inusitadas. Em uma delas, precisou abordar uma moradora que era um pouco escandalosa nos momentos íntimos, o que vinha incomodando os vizinhos. Em outra ocasião, teve que intermediar um problema durante uma obra: a banheira de um apartamento foi instalada no imóvel errado.
Em outro prédio, uma mulher vivia reclamando dos barulhos feitos por um vizinho. Com o acúmulo de multas não pagas, o condomínio entrou na Justiça contra ele. Na hora da negociação, veio a surpresa: os dois estavam namorando —e pediram um desconto. "Cortamos o valor pela metade, a história era muito boa."
Hoje ele é 'fazedor de assembleia'. Ou seja, as pessoas pagam para ele mediar reuniões de condomínio. Na função, ele transita por todos os públicos: de condomínios sociais, que custam R$ 120 ao mês, até prédios de luxo, cuja valor pode ar de R$ 40 mil.
Vou em um prédio que não vou morar, onde não sou advogado, não sou , não sou síndico, não sou nada. Mas as pessoas me contratam para conduzir a reunião, como um mestre de cerimônias. São 250 assembleias no ano.
Márcio Rachkorsky
Márcio é apaixonado por São Paulo e mora na região central. Ele é o síndico do prédio onde uma de suas quatro ex-esposas mora com a filha mais nova dele, Helena, 8. "É um prédio que tem quase 100 anos, tombado pelo patrimônio histórico. Adoro ser síndico de lá." Ele ainda é pai de Julia, 25, e Rafael, 21. No prédio onde mora, não ocupa o cargo.
Márcio fora das telas
Rachkorsky se considera diferente dos homens da sua idade e posição social. "Não tenho ambições. Não gosto de carro chique, não conheço nenhuma marca de relógio, não tenho vontade de juntar dinheiro e fazer fortuna. Ganho bem, mas não tenho ambição."
Ele se vê como uma pessoa "extremamente liberal" com todos os temas. Não tem cobrança com os filhos sobre carreira, por exemplo. Rafael é músico. Júlia trabalha com ele por vontade própria, sem qualquer imposição.
Com Helena não é diferente. "Fico angustiado com a agenda dela, ela tem oito anos. É escola, reforço, terapia, balé, ginástica. Deixo faltar, ficar vendo desenho na televisão", afirma. "Isso não quer dizer que sou irresponsável. Falo sempre isso na minha casa: sou o cara que mais aceita as escolhas das pessoas."
Fora do escritório, e dos condomínios, ele gosta de tomar café —muito curto, muito forte e muito amargo. De presente de aniversário, pediu para a filha xícaras de um antiquário. Ele prefere ouvir música no vinil. Sempre rock gótico dos anos 1980.
Entre as bandas citadas por ele, estão Depeche Mode, The Cure, The Smiths, Sisters of Mercy, Siouxsie and the Banshees e Pet Shop Boys.
Gosto muito de andar pelo centro a pé. Todo dia eu ponho meu fone de ouvido e ando no Minhocão, na praça da República, na Roosevelt, na Augusta, na avenida São João.
Márcio Rachkorsky
Ele também se diz alucinado pelo Madame Underground Club, o antigo Madame Satã, do qual é um mecenas. Durante a pandemia, assumiu o aluguel da casa noturna. Achou que duraria dois meses, mas durou dois anos. "Tenho o maior orgulho."
"Tem gente que fala que sou burro de ter gastado meu dinheiro. Tem gente que compra carro de um milhão e fica andando igual um boboca. Eu gastei no Madame. Ir ao Madame é um dos meus grandes prazeres", completa. O lugar fez parte de sua juventude e, segundo ele, só toca música boa.
Entre viajar e ficar em São Paulo, Márcio não pensa duas vezes. "Gosto de ficar em São Paulo para poder tomar meu café, ouvir música, andar pela cidade e ir ao Madame."
O síndico também é fã de decoração e antiguidades, frequenta tanto feiras no Bixiga quanto na praça Benedito Calixto. "Não enxergo beleza em casa moderna, imóvel contemporâneo. Gosto de lugar escuro."
Um outro prazer que ele tem é a bebida: cerveja amarga, uísque caubói (puro, sem gelo) e vinho encorpado. "É uma das únicas frescuras que eu tenho, não consigo mais tomar vinho ruim", destaca.
3 horas de sono e barra na praça
Quem o acompanha no Instagram, já está acostumado a vê-lo —sem camisa e tatuado— fazendo barra no centro de São Paulo. "Odeio ambiente de academia, mas sou vaidoso. Quero ficar com o corpo em ordem. Sempre fiz esporte, mas faço ao meu modo."
Sua rotina consiste em natação, duas vezes por semana, e ginástica na praça Roosevelt: barra, agachamento, flexão. Tudo sem peso, só com o peso do próprio corpo. "De fone de ouvido, sem uma sequência, faço o que estou com vontade."
Seu pré-treino está mais para um durante-treino. "Todo mundo já me conhece na praça: sempre faço ginástica tomando uma long neck. Treino tomando cerveja."
Dormir também não é seu forte: de três a quatro horas por noite basta. "Nunca fui dormir antes das 2h da manhã, e não consigo acordar depois das 6h." Ele acorda, toma um café, lê jornal físico. "Até o meu dia começar, leva um tempo. Mas acordo cedo."
"As pessoas não fazem ideia de que não tenho apego material. Ganho bem, tenho um bom emprego, mas sou um cara simples e de hábitos simples", afirma ele. E o segredo para equilibrar tudo está em sua força, segundo ele.
"Tenho cinco empregos, durmo pouco, tenho três filhos, tenho um monte de ex-mulher, tenho namorada. Para tudo dar certo, para conseguir equilibrar tudo, sou muito resistente. Não tenho preguiça de fazer as coisas. Não tem outro jeito."
Diferente dos outros, eu morro de vontade de ficar idoso. Não vejo a hora de ser velho. Meu sonho é ser o Velho do Rio (personagem da novela Pantanal): as pessoas chegam e eu, com três palavras, consigo dar o caminho por causa da minha barba branca.
Márcio Rachkorsky